As cabines de concreto da Telesp marcaram presença em diversas cidades paulistas a partir da década de 1980, e em Araçatuba se tornaram parte da paisagem urbana em um período em que a telefonia pública era fundamental para a comunicação da população. Mais do que estruturas de concreto e vidro, elas representavam modernidade, acesso e também um marco no processo de expansão da telefonia no interior de São Paulo. Hoje, restam apenas lembranças e registros fotográficos dessas cabines que despertam memória afetiva e curiosidade histórica.
A criação do Orelhão e o nascimento do design urbano
A história das cabines públicas no Brasil tem início com a criação do “Orelhão”, projetado em 1971 pela arquiteta sino-brasileira Chu Ming Silveira. Nascida em Xangai e formada em Arquitetura pela Faculdade Mackenzie em 1964, Chu Ming desenvolveu o protetor acústico e climático para os telefones públicos, que rapidamente se tornaram ícones urbanos em todo o Brasil. Seus modelos, apelidados de Orelhinha e Orelhão, foram pensados para garantir acessibilidade e proteção contra chuva, sol e ruídos externos. A arquiteta faleceu em 1997, mas deixou um legado reconhecido mundialmente no campo do design urbano.
O surgimento das cabines de concreto
Com o crescimento da demanda por telefonia e a necessidade de estruturas mais resistentes, a Telesp lançou em 1980 um novo modelo: as cabines de concreto com vidro temperado incolor. O projeto começou como experiência piloto em cidades como São Paulo-SP, Santos-SP, Guarujá-SP, São Vicente-SP e Campinas-SP. A proposta era oferecer uma alternativa ao tradicional Orelhão de fibra de vidro, com uma cabine que transmitisse modernidade, maior durabilidade e melhor proteção para os usuários. O vidro transparente permitia segurança e visibilidade, além de dar um aspecto inovador às ruas e praças.
A chegada em Araçatuba
Em Araçatuba, as cabines de concreto começaram a aparecer no decorrer da década de 1980, acompanhando o processo de interiorização e expansão da telefonia pública no estado. Instaladas em pontos estratégicos, elas rapidamente se destacaram pelo visual robusto e pela novidade em relação aos já conhecidos Orelhões. Fotografias da época mostram as cabines em praças, avenidas e áreas comerciais, compondo o cenário urbano e se tornando referência para quem precisava se comunicar em um tempo em que o telefone residencial ainda não era acessível para todos.
Aceitação e desafios
Embora inovadoras, as cabines de concreto da Telesp não tiveram aceitação unânime. Muitos usuários reclamavam do isolamento causado pela estrutura, da dificuldade de manutenção e do vandalismo que frequentemente atingia os vidros temperados. Apesar disso, elas representaram um avanço no setor, sendo vistas inicialmente como símbolos de modernidade e organização urbana. Em Araçatuba, marcaram uma fase importante de expansão da infraestrutura pública, tornando-se parte da memória afetiva da população que dependia dos telefones públicos para contatos pessoais e profissionais.
Declínio e desaparecimento
A partir da década de 1990, com a introdução dos cartões telefônicos no lugar das fichas e, principalmente, com a popularização dos celulares, as cabines públicas começaram a perder espaço. O custo de manutenção e a mudança nos hábitos de comunicação aceleraram o processo de abandono dessas estruturas. Aos poucos, as cabines de concreto da Telesp foram sendo retiradas ou simplesmente esquecidas, restando apenas algumas poucas como vestígios de uma época que marcou a história das telecomunicações no Brasil.
Legado histórico
Hoje, as cabines de concreto da Telesp em Araçatuba são lembradas como parte importante da memória urbana. Elas representam uma fase de transição tecnológica, quando a comunicação pública era planejada e executada como serviço essencial, e mostram como a cidade acompanhava as transformações do Estado de São Paulo. Para além de sua função prática, são símbolos de um tempo em que fazer uma ligação era um ato comunitário, realizado em espaços públicos que integravam a vida cotidiana. Preservar suas imagens e histórias é fundamental para que as novas gerações compreendam a evolução da telefonia e a importância dessas estruturas na construção do cenário urbano da cidade.
Conclusão
As cabines de concreto da Telesp em Araçatuba são mais do que simples equipamentos de telecomunicação. São marcos históricos de uma era em que a tecnologia se materializava em praças e calçadas, conectando pessoas e aproximando comunidades. Embora tenham desaparecido do uso prático, permanecem vivas na memória coletiva e em registros fotográficos que ajudam a contar a história da cidade e do desenvolvimento das telecomunicações no Brasil.


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